28 de março de 2012

Millôr Fernandes (1924-2012)




Hesitei bastante antes de escrever uma nota sobre Millôr Fernandes, esse autor genial que morreu nesta quarta-feira, dia 28. Isso porque é quase impossível não cair nos clichês numa hora dessas - e, de certa forma, acusar o clichê já é mesmo um lugar-comum.

De maneira semelhante, escrever sobre Millôr Fernandes nesse momento é um exercício inútil de tentar sintetizar uma obra vasta. Crônicas, artigos, haikais, aforismos.

Daí que, talvez, a melhor forma de homenagear esse gigante é citar uma de suas frases mais conhecidas, porém, ainda hoje, necessária e definitiva: "Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados".

RIP, Millôr.

24 de março de 2012

Camus, sobre a liberdade de imprensa


Albert Camus foi, certamente, um dos principais intelectuais do século XX. Dono de um talento singular, o pensador e romancista franco-argelino assinou obras de valor permanente para a literatura e cultura universais, como "O Estrangeiro"; "A Peste"; sem mencionar os ensaios, como "O Mito de Sísifo"; e peças de teatro, como "Calígula". É um autor, portanto, que merece mais atenção do que um mero post nesse blog/coletânea que mantenho de forma irregular.

De qualquer modo, vale a pena refletir sobre o que o Camus escreveu sobre liberdade de imprensa. Na última semana, o jornal francês Le Monde trouxe um artigo muito apropriado acerca dessa questão. O texto estava num arquivo, ao que parece esquecido, em Aix-en-Provence. Veio à tona a partir do trabalho de Macha Sery. Em síntese, o texto discorre sobre o que Camus considera os quatro mandamentos do jornalista livre: lucidez, recusa, ironia e obstinação.

Abaixo, segue o trecho que reputo como um dos mais brilhantes no artigo. Para o escritor, a ironia era uma arma sem precedentes contra os mais poderosos:

Il reste donc que l'ironie demeure une arme sans précédent contre les trop puissants. Elle complète le refus en ce sens qu'elle permet, non plus derejeter ce qui est faux, mais de dire souvent ce qui est vrai.

Leia o texto completo aqui, na página do Le Monde

Em tempo: a Folha de S.Paulo deste domingo, dia 25/03, traz o texto traduzido para o português brasileiro.

22 de março de 2012

Por uma (outra) história das guerras...

Acaba de ser publicada, no Amálgama, uma resenha que escrevi sobre o livro de David A. Bell: "Primeira Guerra Total", editado no Brasil pela Record. A obra privilegia um olhar educado e alentado acerca das origens da guerra como nós a conhecemos hoje --- isto é, pelo menos, de como a percebemos atualmente.

Eis um trecho do texto:

Bell observa como essas tentativas foram importantes para forjar um sentimento antibelicista que, àquela altura, não era natural como em nossos dias. Em tempos como o de hoje, as manifestações que investem na estratégia militar são, geralmente, vilipendiadas pelos formadores de opinião, sendo que nem mesmo as razões de estado são levadas em consideração. Nesse sentido, o livro do historiador pode ser entendido como um excelente inventário da história das ideias no Ocidente, haja vista que a relação entre guerra e discurso político é notável no livro.

Leia a resenha completa aqui.

8 de março de 2012

Alexis de Tocqueville sobre as Revoluções...

Entre outros acontecimentos, 2011 marcou o retorno de certa onda de manifestações populares a propósito dos mais variados motivos: no Brasil, contra a corrupção; nos EUA, contra os 1% mais ricos; no mundo árabe, contra os ditadores que insistiam em permanecer no comando daqueles países. Houve, certamente, comoção e mistificação acerca do que acontecia. Nesse contexto, nada mais oportuno do que a leitura de Alexis de Tocqueville no magistral "Lembranças de 1848".

É certo que as lembranças de Alexis de Tocqueville, da maneira como estão registradas no livro, dão conta de um cenário bastante específico, aquele que envolve o ambiente político do período da Revolução de 1848. Acerca desse acontecimento, Renato Janine Ribeiro, autor do prefácio e das notas que acompanham o livro, escreveu que se trata da primeira revolução socialista. Nesse particular, é notável observar como o pensador francês estabelece sua pensata sobre os bastidores daquele evento político. Em outras palavras, Tocqueville reconstitui historicamente o que houve na França pré-revolucionária, e, ao mesmo tempo, propõe olhar arguto e analítico dos fatos e dos principais personagens daquele período (...)

Publiquei essa resenha no Rascunho. Leia mais aqui.

1 de março de 2012

Vento Sul, de Vilma Arêas

Na edição de março do Rascunho, uma resenha sobre o novo livro de Vilma Arêas, "Vento Sul".

Eis um trecho do texto

Ao operar no plano simbólico, com efeito, Vilma Arêas ensaia uma literatura que está mais próxima das ficções, na melhor companhia e tradição estabelecida pelo argentino Jorge Luis Borges. Em tempo: não se quer aqui dizer que a autora emula o estilo ou mimetiza o modelo narrativo do escritor argentino (até porque, se assim o fosse, a obra seria apenas uma paródia). O ponto-chave é que o livro de Arêas, de uma só vez, se descola do conto como gênero tradicional, migrando, aí sim, para aquela acepção concebida por Borges.

Leia o texto completo aqui.

Na mesma edição, há uma entrevista com a autora, conduzida por mim e por Rogério Pereira, editor do Rascunho.

No trecho a seguir, Vilma Arêas comenta sobre a instabilidade da classificação dos gêneros (algo que fez com que "Vento Sul" fosse acompanhado da expressão ficções logo na capa):

Definições são sempre convencionais, é difícil ter certeza. Mário de Andrade afirmou que conto é o que o autor chama de conto. Desse ponto de vista, às vezes, escrevo contos, às vezes talvez não. Na verdade, o gênero vem sofrendo mudanças no correr do tempo, principalmente a partir de Tchekhov, que morreu em 1904, com 44 anos. Hoje é considerado no mundo todo, a começar por Virginia Woolf e Katherine Mansfield, que tiveram consciência da profunda revolução no conto tradicional, promovida pelo escritor russo. Mas no início da carreira, vejam só, as revistas devolviam seus trabalhos sob a alegação de que eram desinteressantes

Leia "Vento Forte", a entrevista concedida por Vilma Arêas, aqui.